
Mas o que é o PIB Verde? É, de acordo com a Universidade das Nações Unidas, um indicador macro-económico, ajustado ambientalmente, que procura internalizar no cálculo do PIB chinês os custos do impacto ambiental e do consumo de recursos gerados pelo "boom" económico.
No dia 7 de Setembro, a China divulgou o seu relatório do PIB Verde, o primeiro, a nível mundial, a divulgar a internalização dos custos ambientais na economia com recurso a este indicador. O relatório elaborado pelo Departamento de Protecção Ambiental (SEPA) e pelo Departamento Nacional de Estatísticas indica que, em 2004, os custos da degradação ambiental resultaram em perdas económicas da ordem dos 511.8 mil milhões de yuan (aproximadamente 51 mil milhões de euros), o que corresponde a cerca de 3,05% do PIB desse ano. De acordo com o jornal China Daily, 287.4 mil milhões de yuan (aproximadamente 28 mil milhões de euros) foram custos do tratamento da poluição, 56% dos quais foram aplicados em programas de descontaminação de água.
Este é o primeiro passo para o desenvolvimento do cálculo do nosso PIB Verde mencionou Pan Yue, o director do SEPA à agência noticiosa Xinhua. A nossa fórmula de cálculo está longe de estar completa. De facto, o cálculo desde indicador tem gerado bastante controvérsia por razões essencialmente metodológicas. Como se incorpora a perda de biodiversidade ou os impactos das alterações climáticas? A China tem vários problemas com a robustez das suas estatísticas por isso é igualmente difícil recolher e incorporar dados relativos à poluição das águas subterrâneas e dos solos ou à qualidade do ar interior. Medições fiáveis precisam-se! Tivessem sido considerados outros elementos e a China ficaria ainda pior na fotografia?!
Podemos pensar este tema como mera questão de cosmética ou de Green Washing para a imagem da China, apontada como o maior sorvedouro mundial de recursos naturais da actualidade. De qualquer maneira, percebe-se uma ligeira alteração das prioridades políticas, no sentido de progressivamente incorporar um conjunto de medidas promotoras do crescimento mais sustentável da China e consequentemente do planeta. Pelo menos o PIB Verde tem o mérito de alertar os responsáveis políticos chineses e o mundo para a urgência de resolver os problemas ambientais.
A China tem que travar e inverter, de alguma forma, esta espiral de degradação. O rol de problemas é extenso: quantidade e qualidade da água; produção da energia do país com recurso maioritário a carvão de má qualidade; muitas cidades chinesas, conforme relatório divulgado este mês pelo SEPA, com problemas de poluição atmosférica; mais de um terço delas sem estações de tratamento de esgotos e onde 80% dos lixos domésticos são incorrectamente tratados.
Não admira que cada dia em que o sol brilha no céu azul da China, i.e., sem nuvens de poluição, seja meticulosamente contabilizado. Em Pequim, que implementa o plano Defending Blue Sky desde 1998, de acordo com o departamento local de investigação ambiental, os veículos motorizados são responsáveis pela emissão de 3600 toneladas de poluentes por dia. Não admira... tendo em conta que só na capital chinesa circulam actualmente 2,6 milhões de veículos motorizados e que a cada dia que passa 1000 novos veículos se fazem à estrada.
É necessário investir quanto antes na protecção ambiental e nas infra-estruturas associadas. O 11º Plano Quinquenal (2006-2011) promete gastar cerca de 132 mil milhões de euros, ao longo dos próximos 5 anos. Está aqui uma janela de oportunidade!