
De acordo com o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, países europeus como Portugal, Espanha, Itália e Grécia poderão ter que voltar a conviver com a malária, erradicada de Portugal em 1950, e a dengue, ambas doenças tropicais veiculadas pelos mosquitos, devido ao aquecimento global.
Segundo o médico, que falava numa conferência em Faro, a malária voltará «seguramente» a afligir os países do Sul da Europa e talvez o dengue, bastando para tal que a temperatura aumente aos níveis que se prevê e que se encontrem mosquitos no território.
«Tudo aponta para que a Europa volte a conhecer esse tipo de doenças e por isso é preciso formar os médicos para que voltem a estar atentos a patologias que já desapareceram», afirmou. Também um especialista do Centro de Malária e Doenças Tropicais tinha dito anteriormente à Lusa que em Portugal, e noutros países europeus, existe o risco de ressurgimento de doenças tropicais, como a malária, devido às alterações climáticas.
Virgílio do Rosário, antigo coordenador da Unidade de Malária do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa, adiantou que não existem garantias de que os focos restritos de doenças infecciosas, típicas de climas quentes, como a Malária ou a Leihsmaniose, não possam ressurgir na Europa.
«Existe a potencialidade que estas doenças ressurjam na Europa devido a vários factores, como as mudanças climáticas, uma vez que existe uma ligação estreita entre o ambiente e a propagação deste tipo de doenças», disse.
«Esta situação está a ser objecto de prevenção e vigilância a nível europeu, através do Projecto EDEN, onde até 2010, estão a ser desenvolvidos métodos e ferramentas de monitorização e de alerta precoce, que vão ser disponibilizados às autoridades de saúde pública a nível global e regional», afirmou o especialista.
«Trata-se de um projecto da Comissão Europeia que reúne 48 institutos de investigação, em 24 países, incluindo Portugal, e que visa compreender o impacto das actuais mudanças ambientais sobre a difusão de novas doenças, emergentes ou re-emergentes, no território europeu», acrescentou.
No início do ano realizou-se uma conferência na Turquia, onde estiveram reunidos todos os coordenadores nacionais e membros de investigação dos respectivos Institutos, para efectuar apresentações gerais sobre os dados recolhidos em estudos localizados nos respectivos países, assim como para expor ideias que podem ser utilizadas por outros projectos.
Na altura, em declarações à Lusa, Carla Sousa, uma investigadora portuguesa que participou na conferência, disse que no EDEN encontram-se integrados seis projectos verticais, cada um dedicado a uma doença específica, como a Malária, a Leihsmaniose, o Vírus do Nilo Ocidental, assim como a doenças transmitidas por roedores e por carraças, estando Portugal apenas envolvido nos projectos da Malária e Leihsmaniose.
«Há toda uma análise que tem vindo a ser feita - o primeiro passo tem sido tentar compreender como foi a situação no passado nos países em que se registraram surtos deste tipo de doenças, tentar reunir o maior número possível de registos que permitam compreender os factores que levaram a sua propagação, assim como aqueles que, para além dos programas de erradicação, levaram à extinção da Malária nos países europeus», afirmou a especialista.
«O segundo passo é perceber qual a situação actual nos países em estudo, nomeadamente Portugal, através de dados que demonstrem a existência de comportamentos de risco por parte da população, o número de casos de Malária ´importada`, a existência de novas variáveis até agora não tidas em conta, como também trabalhar nas ferramentas que permitam saber como é que as variáveis actuais irão evoluir no futuro», acrescentou.
«As declarações sobre a possibilidade da malária voltar a estabelecer-se na Europa Central não são alarmistas. São reais e necessárias e a falta de alertas deste tipo, pode levar à falta de informação e preparação dos profissionais de saúde, assim como das entidades competentes, que, sem conhecimento prévio da situação, não podem saber como agir. É preciso alargar o conhecimento», defendeu Virgílio do Rosado.
«Mesmo assim, acho que os serviços europeus de saúde estão aptos e têm todas as condições para eliminar um possível surto de malária ou outras doenças tropicais», afirmou especialista.
Diário Digital/Lusa